Vigilância imunitária

26-03-2014 18:07

A vigilância imunitária consiste no reconhecimento e na destruição de células anormais, sendo essa uma das principais funções da imunidade mediada por células.

Quando o nosso organismo deteta a presença de células anormais, reconhecidas como estranhas uma vez que têm antigénios superficiais diferentes dos das células normais, desencadeia uma resposta ao nível do sistema imunitário de modo a conseguir eliminá-las. Estas células podem ter origem em anomalias genéticas como os tumores ou provir de enxertos. A protecção do organismo contra estas células é realizada diretamente pelos linfócitos T e não pelos anticorpos que circulam no sangue.

 

I Linfocito Talterada
 

Fig. 1 – Modo de atuação dos linfócitos T na defesa do organismo

 

Podemos encontrar quatro variantes de linfócitos T, como demonstrado na fig. 1, nomeadamente linfócitos T auxiliares (Th), supressores (Ts), citotóxicos (Tc) e de memória (Tm):

  • Os linfócitos Th são responsáveis pela coordenação e cooperação dos vários intervenientes de defesa imunitária, através da produção de substâncias químicas.
  • Os linfócitos Ts inibem a resposta imunitária atuando sobre os linfócitos Th e sobre outras células que intervêm na defesa imunitária, como por exemplo os linfócitos B.
  • Os linfócitos Tc estão encarregues da destruição e eliminação das células reconhecidas como estranhas, como o caso de células infetadas por vírus ou bactérias, através da libertação de substâncias químicas que provocam a morte celular de diversas formas, sendo a mais comum a apoptose. Na apoptose os sinais recebidos pelas células alvo desencadeiam a produção de enzimas nessas mesmas células que irão degradar o ADN assim como outras estruturas essenciais para a sua sobrevivência. A falha deste sistema é a principal razão para a proliferação de células cancerígenas que originam tumores.
  • Os linfócitos Tm originam-se a partir dos linfócitos T auxiliares, sendo armazenadas nos órgãos linfóides secundários e funcionam como células de memória guardando a informação sobre os antigénios das células invasoras permitindo assim uma maior eficácia na proteção do organismo em infecções futuras.

 

I Apoptose

 

Fig. 2 – Apoptose celular

   

 

Fig.3 – Relação entre eficácia do combate a células cancerosas e quantidade de linfócitos injetados

 

Os linfócitos T não atuam sobre células livres, só reconhecem antigénios apresentados pelas células do nosso organismo. É devido a isto que o nosso organismo reconhece os seus próprios antigénios (self) que é a base da tolerância imunológica e é também devido a isto que o organismo reconhece antigénios que lhe são estranhos (non-self), que são apresentados normalmente por células criadas para esse efeito, chamadas células apresentadoras.

No caso do organismo ser atacado por bactérias são as células apresentadoras, macrófagos, que as vão digerir ficando com os antigénios da bactéria na sua membrana celular. Posteriormente os linfócitos T reconhecem o macrófago como uma célula estranha ao organismo eliminando-a.

 

 

 

Fig. 4 e 5 – Processo de reconhecimento do antigénio pelo linfócito T

 

Os linfócitos T são também responsáveis pela aceitação ou rejeição de enxertos de tecidos ou transplante de novos órgãos no organismo. A rejeição acontece quando existem diferenças significativas a nível molecular e genético entre o tecido ou órgão implantado e o recetor.

 

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Fig.6 – Estudo da reacção de ratos de diferentes estirpes a enxertos de pele

 

No primeiro caso da imagem apresentada podemos ver dois ratos de duas estirpes diferentes, A (3) e B (2), que sofreram um enxerto de pele do rato 1 (de estirpe A). Observamos que o implante do rato 2 (da estirpe B) foi rejeitado ao fim de 10 dias e no caso do rato 3 (da estirpe A) não houve rejeição. Isto acontece porque as células do enxerto transplantado são reconhecidas como estranhas pelos linfócitos T da estirpe B, ativando assim o sistema de resposta imunitária específica e criando linfócitos T de memória para os antigénios das células do enxerto, enquanto que na estirpe A estes marcadores são reconhecidos como familiares permitindo assim a introdução destas células no organismo.

 

No segundo caso dá-se um novo enxerto de pele proveniente do rato 1 em dois ratos de estirpe B, 2 e 4. Uma vez que o rato 2 já foi anteriormente submetido a um enxerto de pele do rato 1 a rejeição deste último dá-se mais rapidamente do que a do rato 4 que teve o primeiro contacto com células provenientes da estirpe A. O rato 2 apresenta maior eficácia e rapidez na rejeição de células da estirpe A visto que, uma vez que já tinha sido exposto a estas, já possuía no seu organismo linfócitos T de memória que lhe permitiram reconhecer mais rapidamente as células estranhas da estirpe A. No rato 4 a rejeição ao enxerto dá-se mais lentamente visto que é a primeira vez que o organismo deste rato é exposto a estas células.

 

No último caso é retirado um enxerto de pele de um rato da estirpe C que é posteriormente implantado nos ratos 2 e 4 (ambos da estirpe B). Uma vez que nenhum dos dois teve alguma vez contacto com células da estirpe C a rejeição do enxerto dá-se lentamente, 10 dias mais tarde, em ambos os ratos.

Com esta experiência podemos concluir que há rejeição de enxertos quando o dador e o recetor pertencem a estirpes diferentes e que os linfócitos T de memória criados para reconhecer as células de uma dada estirpe não conseguem reconhecer células de uma outra.

 

Fig. 7 – Resposta primária e secundária à introdução dos antigénios X e Y no organismo

 

Aquando da primeira injecção do antigénio X podemos verificar que o organismo responde de modo pouco intenso e demorado o que se verifica pela baixa concentração de anticorpos. Ao se injectarem de novo o antigénio X e pela primeira vez o Y no organismo verificamos que há uma resposta ao antigénio X muito mais intensa e rápida do que na primeira exposição, visto que já existem linfócitos T de memória para este antigénio, enquanto que observamos uma resposta lenta e pouco intensa à introdução do antigénio Y.

 

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