Estudo aponta caminhos para a sustentabilidade da produção; objetivo é traçar visão nacional e global do sistema até 2050

28-05-2014 18:50

O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) está desenvolvendo um estudo sobre o papel do Brasil no cenário global da produção de alimentos. A principal finalidade é identificar linhas de ação que promovam a atuação proativa do País na sustentabilidade e sustentação da produção de alimentos e o papel do Brasil, num contexto global, com ênfase nos aspectos científicos, tecnológicos e de inovação. O tema desta ação, que tem parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), está inserido no programa de eventos organizados pelo CGEE para a Rio+20, que acontecerá em junho de 2012, no Rio de Janeiro.

Na opinião do responsável pelo estudo no CGEE, Antonio Carlos Guedes, a disponibilidade de terras planas aptas à mecanização, luminosidade, temperatura e oferta de água são algumas características que colocam o Brasil em posição privilegiada na sustentabilidade da produção de alimentos, em relação a outros países. “Tudo isto, aliado a um setor privado empreendedor, domínio tecnológico em ambiente tropical e subtropical contribui para o aprimoramento da institucionalidade do setor” – completa o especialista. 

Dados preliminares do estudo, no entanto, revelam que em nível nacional e global acontecem variações na importância relativa dos setores da economia. No caso brasileiro, o setor agropecuário tem ocupado nas últimas quatro décadas, posição de destaque como indutor do desenvolvimento, especialmente pelas mudanças ocorridas no setor, pela incorporação de novas tecnologias produtivas, novas ferramentas gerenciais e aprimoramentos institucionais. 

Até a década de 1970, de acordo com Guedes, uma parcela considerável da segurança alimentar no país era garantida por meio de importações periódicas. A partir de então, a produção de alimentos passou a apresentar taxas de crescimento mais elevadas que as da demanda interna e o Brasil passou a ocupar cada vez mais espaço na oferta mundial de alimentos. “Ocorreu também uma intensificação da produção de matérias primas que têm interface com a produção de alimentos. Hoje, a pauta de exportação brasileira tem, além dos tradicionais produtos exportados, como o café, uma forte participação dos complexos: soja, carne, sucroalcooleiro e produtos do setor florestal”, afirma.

De acordo com o estudo, o Brasil é o primeiro no ranking de exportação de açúcar, café, suco de laranja, etanol e tabaco. Cenários futuros também destacam a importância crescente do país como fornecedor dessas commodities. O crescimento demográfico global, o maior poder de consumo de países emergentes, mudanças de hábitos alimentares e o aumento da demanda por agroenergia fazem parte do conjunto de tendências consolidadas que antecipa a expansão da demanda por produtos advindos do setor agropecuário. “Deve-se, no entanto, considerar que, pela diversidade e complexidade da agricultura brasileira, esses avanços, embora muito relevantes, dificilmente bastarão, no que se refere ao contexto global”, diz. 

A grande pressão da agricultura brasileira sobre o meio ambiente, segundo Guedes, indica que é preciso buscar, além de novos patamares de conhecimentos, novos paradigmas científicos e tecnológicos, porque a produção agropecuária brasileira deverá atender às crescentes e diversificadas demandas do mercado interno, enfrentar os desafios dos subsídios dos nossos competidores e a tendência histórica de preços decrescentes no mercado internacional de produtos agrícolas.

Embora não tenha sido definida uma data exata, o estudo está focado no bicentenário da independência do Brasil, em setembro de 2022, e na linha do tempo para a estabilização da demanda por alimentos, em razão da redução da taxa de crescimento da população brasileira. É o que explica o coordenador do estudo pela Embrapa, Carlos Santana. De acordo com o pesquisador, esse horizonte de tempo está dividido em duas partes: um de médio prazo, até 2022, e outro mais longo, até 2045, quando se prevê uma diminuição no índice de nascimentos no país e, consequentemente, estabilização da população, influenciando na demanda por alimentos.

Santana lembra ainda que, no restante do mundo, a população continuará crescente, devendo chegar a 9.3 bilhões de habitantes em 2050, mas há expectativas positivas em relação à capacidade de o Brasil continuar assegurando seu desempenho quanto à oferta de alimentos. “Mesmo se tratando de um aumento significativo, podemos crer que o Brasil continuará exercendo essa posição em um contexto global, devido à sua disponibilidade de recursos naturais, ao seu empreendedorismo e às novas tecnologias aqui utilizadas”, ressalta.

Após a conclusão dos estudos, será elaborado um documento com foco nos desafios e oportunidades identificados para o sistema agroalimentar; proposições de políticas e outras iniciativas para a promoção da sustentabilidade e sustentação da produção de alimentos pelo Brasil; e a produção sustentável como vetor para a industrialização, com agregação de valor aos produtos agropecuários. Além disso, constarão no documento informações sobre a importância na produção de alimentos e de novos conhecimentos científicos e de novas políticas no fortalecimento e na promoção da sustentabilidade e sustentação da produção para atender as necessidades do mercado interno e consolidar do papel de liderança do Brasil no mercado internacional.

 

 

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